Entrevista de Quinta: Helena Cerello, atriz

Cria do teatro, Helena Cerello está na série Como Aproveitar o Fim do Mundo – Fotos: Miguel Arcanjo Prado

Por Miguel Arcanjo Prado

A partir desta quinta-feira (13), a atriz Helena Cerello, 35 anos, rosto conhecido dos palcos paulistano, estará também na TV. Ela participa dos próximos dois episódios da série Como Aproveitar o Fim do Mundo (Globo), na qual interpreta a irmã da protagonista vivida por Alinne Moraes.

Em janeiro de 2013, ela também estará na série Família Imperial, do canal pago Futura, na qual viverá a amante do imperador Dom Pedro 2º.

Seja na TV, no cinema ou no teatro, Helena faz sua arte chegar a gente de todas as idades. É também protagonista de Alice no País das Maravilhas, elogiada peça infantil da Le Plat du Jour que está em sua nona temporada. Recentemente, idealizou a montagem de Il Viaggio, texto inédito de Fellini no Brasil que, após temporada paulistana, faz turnê no interior paulista em março de 2013. E ainda sobra tempo para cantar na banda performática Cabareteras.

Casada com o também ator Raul Barretto, do grupo Parlapatões, com quem tem uma filha, Aurora, de dois anos, Helena esteve na sede da Record, na Barra Funda, em São Paulo, onde conversou com a reportagem do Atores & Bastidores do R7 sobre este momento especial em sua carreira na Entrevista de Quinta. Leia com toda calma do mundo:

A atriz Helena Cerello nasceu em São Paulo – Foto: Miguel Arcanjo Prado

Miguel Arcanjo Prado – Como foi fazer essa participação na série Como Aproveitar o Fim do Mundo?
Helena Cerello – Acho que dei muita sorte desde o começo, porque o Zeca Bittencourt, que fez meu registro na Globo, me recebeu muito bem. Aí me chamaram, fiz o teste e passei. Dei sorte de cair na equipe do diretor José Alvarenga Jr., que é quase um ambiente de um grupo de teatro.

Miguel Arcanjo Prado – Qual é sua personagem?
Helena Cerello – Vou fazer a Lívia, que é irmã da Kátia, personagem da Alinne Moraes, que é um doce de pessoa.

Miguel Arcanjo Prado – Ela é mesmo doce. Passei um dia com ela gravando um comercial e me lembro que ela comia mais do que eu, um pratão de arroz, feijão e farinha! [risos]
Helena Cerello – Ela é uma luz. Ela não é linda, é uma miragem! E o Danton Mello é um fofo também. Minha personagem é a irmã que aparece com o marido, que será o Renato Caldas, que também ator de São Paulo. Gravamos em uns 20 dias. Eu sou uma irmã que ela procura em um momento de dificuldade…

Miguel Arcanjo Prado – É a irmã rica?
Helena Cerello – Muito! [risos] E elegantérrima! Ela é chique, mas tem momentos muitos patéticos.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi entrar em contato com a linguagem da TV?
Helena Cerello – O Alvarenga foi maravilhoso, explicou detalhadamente tudo o que queria. Ele falou: “Vamos afinar vocês, sei que vocês vêm do teatro, de São Paulo”, foi muito cuidadoso. Ele entende muito bem a linguagem do humor. Teve uma cena na qual até o câmera começou a dar risada, e ele teve de parar. Aí, percebi que estava funcionando.

Miguel Arcanjo Prado – Vamos agora falar um pouco do teatro. Alice é um sucesso…
Helena Cerello – Alice para a minha vida é um marco. Cheguei a engravidar e estava com três semanas e descobri que havíamos ganho o Proac com Le Plat du Jour. Só que acabei perdendo aquele bebê. Então, Alice veio para me ajudar em um momento de tristeza muito grande. Foi um sucesso trabalhar com a recepção calorosa das crianças que nos acolheram. É um espetáculo que foi muito prestigiado pela imprensa e o público. Está na nona temporada!

Miguel Arcanjo Prado – Como você consegue o frescor de uma menina?
Helena Cerello – Acho que veio da dança, que faço desde pequena. Fiz balé, contemporânea, brasileira, capoeira… Então, entendi logo o físico da Alice. Ela é pré-púbere. Não é mais só uma criança e o corpo dela diz isso. A Alice vai porque ela quer. Ela tem a consciência de seu domínio e de sua sedução, mesmo ainda sendo algo leve, infantil. A Alice cresce e se redescobre.

Helena Cerello foi responsável por trazer texto inédito de Fellini ao Brasil – Foto: Miguel Arcanjo Prado

Miguel Arcanjo Prado – E você também foi responsável pela montagem de um texto inédito de Federico Fellini, Il Viaggio. Como foi isso?
Helena Cerello – Sou descendente de italianos e estive na Itália em 2008 para tirar passaporte de lá. Estava andando um dia por Milão e entrei em uma livraria, onde fiquei cinco horas. Veio uma mulher ruiva que me trouxe um monte de livros. Entre eles, estava o roteiro italiano de Il Viaggio. Comprei na hora. Engravidei e, depois que tive minha filha, fiquei mais quieta e consegui traduzir. Pensei: quero montar essa história! E corri atrás.

Miguel Arcanjo Prado – Como foi a formação do elenco, que é bem eclético? Tem o Ésio Magalhães, do Barracão Teatro, o Ed Moraes, da Cia. dos Inquietos…
Helena Cerello – O Ésio Magalhães eu já tinha vontade de trabalhar há um tempão. Já tinha tido ele como preparador. A Bete Dorgam era outra… Eu fui pensando com quem eu tinha afinidades. E gente que tinha a ver com Fellini. Ele dizia na época que queria filmar esse roteiro com grandes palhaços de sua época. Então, peguei pessoas ligadas a este universo. E os palhaços são ótimos para trablahar. Se você quiser montar um elenco tranquilo, chame palhaços, porque eles não dão trabalho nenhum! [risos]

Miguel Arcanjo Prado – A peça continua em 2013?
Helena Cerello – Sim. A agenda de todos é complicada. Mas vamos reestrear em março no interior de São Paulo, vamos passar por Ribeirão Preto, Santos, Araras e Jaguariúna. Mas queremos voltar, sim, para São Paulo. E quem sabe fazer no Rio também? O Marcelo Rubens Paiva, que adaptou o texto para o teatro, tem esse sonho também.

Miguel Arcanjo Prado – Você é bem relacionada!
Helena Cerello – O Paiva é meu padrinho de casamento! Faço teatro desde 1996, mas desde que comecei a namorar com o Raul [Barretto, do Parlapatões] e me casei com ele, acabei tendo contato com muita gente que já tinha uma relação carinhosa com os Parlapatões. Teatro é tão difícil que se a gente não achar a nossa turma, em quem possamos confiar, fica complicado. E eu sou apaixonada pela turma do circo. É uma familiona.

Miguel Arcanjo Prado – Você é paulistana?
Helena Cerello – Nasci aqui, mas minha família vem do interior. Meu pai se chama Antenor Cerello e é advogado. É uma figura, um personagem de Fellini. Bravo e divertidísismo, uma fonte de inspiração para mim. Tem mais de 60 anos e trabalha muito. Minha mãe se chama Márcia Cerello, é socióloga e é das artes. Faz pintura. Tenho também uma irmã advogada, Virgínia Cerello, que se casou com um italiano, foi morar em Milão e agora está começando a tralhar com moda.

Miguel Arcanjo Prado – Como você era quando criança?
Helena Cerello – Eu era muito tímida. Quando ia para o interior, ficava impressionada com aquelas pessoas que sabiam contar histórias. E também sempre gostava de fazer dupla de palhaços nas festas. Mas acabei deixando isso de lado e fiz faculdade de administração de empresas na Fundação Getúlio Vargas. Entrei novinha, com 17 anos, e aquele universo duro dos números começou a mexer muito comigo. Então, comecei a fazer cursos livres de teatro.

Miguel Arcanjo Prado – Era para você ser uma executiva?
Helena Cerello – Era! [risos] Eu me formei e recebi uma proposta para ganhar R$ 10 mil. Não contei para ninguém, porque não queria. Meu pai sempre cobrava o diploma. Cheguei a entrar um pouco em crise, saí da faculdade, mas meu pai conseguiu fazer eu voltar. Depois que me formei, resolvi fazer uma boa escola de teatro. Fiz o Célia Helena, onde fiz muitos amigos, como a Ligia Cortez. O que me levou a fazer teatro foi a sede que tinha por essas coisas que me conectam com outros indivíduos e a possibilidade de contar grandes histórias.

Miguel Arcanjo Prado – Como você conheceu o Raul?
Helena Cerello – Foi muito engraçado. Quando eu tinha 12 anos, achei um livro que mandava eu escrever o nome de uma pessoa que seria importante na minha vida. Não sei porque escrevi Raul. E passaram-se muitos anos e acabei conhecendo ele! Estamos juntos há dez anos e temos uma filha linda de dois anos, a Aurora.

Miguel Arcanjo Prado – E como concilia a vida de atriz com ser mãe?
Helena Cerello – Sempre você está abrindo mão. Fui no Rio gravar e nunca tinha ficado uma semana longe da Aurora. É difícil. É uma equação que não fecha. Só as mães entendem. É claro que o pai e os avós ajudam, mas a gente sempre fica com o coração dividido. Eu divido muito com minhas amigas que também são mães e amam seus trabalhos. O segredo também é produzir suas coisas.

Miguel Arcanjo Prado – E o que mudou ao ser mãe?
Helena Cerello – Ser mãe é ter a consciência da finitude. Porque quando você é jovem você não pensa na morte. Mas quando você tem um filho, aquele bebê sai da sua barriga, mal respira direito, você toma consciência da responsabilidade que você tem diante daquele bichinho que respira, que tem vida.

Helena Cerello é mãe da pequena Aurora: “Ser mãe é ter consciência da finitude” – Foto: Miguel Arcanjo Prado

Miguel Arcanjo Prado – E sua relação com cinema?
Helena Cerello – Todo ator quer fazer cinema, porque tem mais liberdade para contar grandes histórias do que a TV. O Maistroianni falava que cinema é a possibilidade de viajar e conhecer o mundo por lugares onde você não entra como um turista comum. Já fiz participações nos filmes Garotas do ABC e Quando Dura o Amor?. Também fiz um filme do diretor dinamarquês Jorgen Leth, The Erotic Man, produdizdo por Lars Von Trier. Filmamos em 2008 e foi lançado em 2010.

Miguel Arcanjo Prado – Você também estará na série Família Imperial?
Helena Cerello – Sim! Vou ser a amante do Dom Pedro II, a Condessa de Barral. Muita gente de teatro participou. O legal é que essa personagem história foi tutora da Princesa Isabel e deu uma educação liberal para ela. Tanto que depois ela aboliu a escravidão…

Miguel Arcanjo Prado – Quando você pensa em futuro, onde você deseja chegar?
Helena Cerello – Vou citar o Fellini: “Eu quero fazer sucesso suficiente para poder fazer meu próximo filme”. Gostaria muito que meu trabalho atual me levasse para outros. E, pensando na minha função com artista, quero sempre ter clareza para encontrar histórias que minha voz consiga dar amplitude. Histórias que façam sentido e transformem as pessoas, em prol de algo mais justo, mais humano.

Miguel Arcanjo Prado – E valeu a pena deixar de ser executiva para virar atriz?
Helena Cerello – Depois de aprender a mexer na bolsa de valores em inglês, eu só te digo uma coisa: tem que jogar mesmo tudo para o alto se é para fazer aquilo que se gosta. E meu lugar é o palco. É o que me faz feliz.

O jornalista Miguel Arcanjo Prado conversa com a atriz Helena Cerello para a Entrevista de Quinta do R7

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