Angela Ribeiro, a força bruta de uma atriz

A Musa do Teatro R7 Angela Ribeiro é destaque da peça Máquina de Dar Certo – Fotos: Miguel Arcanjo Prado

Por Miguel Arcanjo Prado

A infância vivida na fazenda dos avós na Ilha do Marajó, no Pará, entre búfalos da paradisíaca imagem amazônica, pouco combina com a frenética alameda Santos, no coração dos Jardins, onde mora atualmente, em São Paulo. Mas, por diferentes que sejam os lugares, nos dois a atriz Angela Ribeiro se sente em casa.

Eleita Musa do Teatro R7 por sua atuação de destaque no espetáculo Máquina de Dar Certo – que encerra temporada no domingo (16) no Teatro Cacilda Becker [veja o serviço ao fim desta reportagem] –, Angela chega disposta ao bate-papo e para a sessão de fotos nos arredores de sua casa.

Angela Ribeiro integra a Cia. Bruta de Arte: “Funcionamos como uma engrenagem” – Fotos: Miguel Arcanjo Prado

É manhã de um dia fatídico, 12/12/12, ela me lembra, enquanto revela ter feito uma oração para São Miguel Arcanjo assim que acordou. Brinco que está protegida, já que conversa com o próprio.

Nascida em Belém do Pará, filha de Antônio José Ribeiro e Ruth Castro, tem um irmão, também Antônio, e um pai emprestado, Leopoldo, já que, após a separação, a mãe se casou novamente.

Acostumou-se com casa cheia, parentes sempre por perto. Morava de frente à praça. Atrevida, inventava espetáculos e cobrava ingressos. “Fui de subir em árvore, andar descalça e tomar banho de chuva”.

Aos 12 anos, o professor de educação artística, José Leal, a introduziu no teatro. Fez parte do grupo do Colégio Moderno, onde estudou. Logo, começou “a perceber o quanto isso era importante” em sua vida.

Vida de publicitária

Mas veio o vestibular. Como gostava de escrever e desenhar, prestou para publicidade, na Universidade Federal do Pará. Aos 17, entrou na vida acadêmica e o teatro ficou para depois. Foram oito anos sem pisar num palco.

Nesse tempo, arrumou um namorado engenheiro, mudou-se com ele para São Paulo, se separou, entrou em crise, arrumou um novo companheiro já na metrópole paulista, o também publicitário Rogério Trajano, com quem ficou sete anos casada e de quem ainda é  amiga. Ufa. “Sou sagitariana: me apaixono e vou”, explica. Faz aniversário no próximo dia 19.

Acabou se achando no intenso mercado publicitário paulistano na agência Luminas, na qual é redatora. “É um lugar de pessoas íntegras, além do Marcelo Greco [diretor de criação] ser um grande amigo”.

Mas o teatro logo desabrochou outra vez. “Conheci o Michel Fernandes [crítico teatral] e ele falou para eu ir ver uma peça dos Satyros”, lembra.

Viu De Profundis, em 2003, e encontrou um lugar para voltar ao palco. “Fiz a oficina deles no mesmo ano”. Descobriu um mar de possibilidades e entrou para o elenco da peça Kaspa Hauser. Viajou com Os Satyros para o Festival de Curitiba. Entretanto, não foi feliz: o casamento acabou no dia da viagem.

Entrou em crise de novo, emagreceu dez quilos de tristeza, ficou um ano longe do teatro.

Angela Ribeiro nasceu em Belém do Pará, mas se encontrou artisticamente em SP – Foto: Miguel Arcanjo Prado

Cia. Bruta de Arte

Mas algo dizia que ela deveria voltar. E voltou. Em 2005, retornou e encontrou sua turma. “Em 2006, o Roberto Audio começou a dirigir o Núcleo Experimental dos Satyros. Ele virou meu mestre. É um artista sensível que enxerga coisas que você nem imagina”.

Em 2007, a turma causou frenesi na praça Roosevelt, com a peça El Truco. O sucesso foi tanto que aquele grupo de alunos resolveu que era chegada a hora da independência. “Criamos a Cia. Bruta de Arte e desde então nos mantemos sem um espaço, sem fomento. Na raça”.

Com a primeira peça do novo grupo, Cine Belvedere, em 2010, veio também o novo e definitivo amor: o ator e diretor Thiago Balieiro. Dessa vez, encontrou um companheiro que entendeu o ritmo intenso de vida de uma atriz-publicitária. “Somos bem diferentes, mas nos equilibramos justamente nisso. E um admira ao outro como artista”.

Angela Ribeiro já integrou Os Satyros, o CPT de Antunes Filho e estuda na EAD-USP – Fotos: Miguel Arcanjo Prado

Tesão no palco

Com a liberdade dada por Audio e os colegas da Bruta, resolveu ampliar seus horizontes. Entrou para o CPT do severo Antunes Filho. “Foi um tempo que aprendi a ter disciplina e onde tive certeza de minha vocação”. Em 2009, veio outro passo importante: entrou para a EAD, a Escola de Arte Dramática da USP. Vai se formar em maio de 2013, com uma montagem de Mil e Uma Noites. “Gostei de entrar na EAD com 33 anos. Porque pude ter maturidade para entender que não existe apenas uma visão. Percebi que não existia uma verdade absoluta”.

Angela Ribeiro se divide entre o palco e a carreira na publicidade – Foto: Miguel Arcanjo Prado

Sobre o vigor que demonstra em Máquina de Dar Certo, o segundo espetáculo do grupo, diz que é “fruto do tesão” que tem em estar em cena. Vão continuar a peça em 2013, enquanto a nova montagem, Histórias Mínimas, não vem.

“Somos um grupo alicerçado no respeito à diferença. Todos trabalham em outras áreas para sobreviver e fazem teatro por amor. A força dessa união e dessa harmonia se traduz em cena. Funcionamos como uma engrenagem”.

Teste de gravidez

Na temporada no TUSP, teve uma surpresa. Ao dançar freneticamente e dar um grito em cena, sentiu medo pela primeira vez. O corpo impunha limites. Intuiu e passou na farmácia ao lado e comprou um teste de gravidez. Deu positivo. Está com quatro meses. Thiago está feliz em ser pai.

“Ainda não sei se é menino ou menina. Foi muito bem-vindo. Sei que minha vida vai mudar, não vai dar para continuar essa correria louca. Mas quero trabalhar até o fim da gestação”, promete.

O filho a fará fincar de vez a âncora em São Paulo. Belém fica na lembrança de amigos e parentes queridos e na afetuosa visita anual. Quando está em casa sozinha, coloca Chico Buarque para tocar. Ou música dos anos 80, década em que foi criança. Intensa, diz que faz tudo “com muita paixão”.  E deve ser por isso que quem vê Angela Ribeiro no palco sai, de uma forma ou de outra, tocado por sua bruta e sensível arte.

Grávida de 4 meses, atriz Angela Ribeiro quer trabalhar até o fim da gestação – Fotos: Miguel Arcanjo Prado

Máquina de Dar Certo
Avaliação: Ótimo
Quando: Sexta e sábado, 21h, domingo, 19h. 70 min. Até 16/12/2012
Onde: Teatro Cacilda Becker (rua Tito, 295, Lapa, São Paulo, tel. 0/xx/11 3864-4513)
Quanto: R$ 10
Classificação: 10 anos

Conheça também o Muso do Teatro Alysson Salvador

 

Leia também:

Fique por dentro do que os atores fazem nos bastidores

Descubra agora tudo o que as belas misses aprontam

Tudo que você quer ler está em um só lugar. Veja só!

 

Please follow and like us:

2 Resultados

  1. Dani disse:

    A atriz Ângela Ribeiro, pra mim Angel, amiga fiel, profissional maravilhosa e atriz surpreendente, se encaixa em todos em quesitos para o sucesso. Desde a sua primeira apresentação teatral ainda em Belém do Para, arrasou com sua performances, profissionalismo, e competência na sua atuação nos surpreendendo cada vez mais!!!
    A Angel é o máximo e precisa ser “vista” por todo o Brasil! Merece ser reconhecida por todo o meio artístico!
    Merece ser ainda mais feliz e realizada.
    Estou emocionada por ter lido essa matéria que representa muito o que ela é e por tudo o que ela lutou.
    Amiga, você merece o melhor!!!! Amo você!!!
    Merece ter um sucesso

  2. Lilian Abou El Hosn cordeiro disse:

    Amei a reportagem Angela!
    Queria muito estar em Sampa pra assistir mas tenho certeza que meu representante legal Rodrigo, vai assistir e me manda notícias!
    Parabéns tenho orgulho do seu trabalho. Muitos beijos e muito sucesso

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *