Crônica da Lu: Perdas e ganhos

Luciana Rafaela Duarte: “Sentimo-nos incitados a provar o tempo todo que somos vencedores”

Por Luciana Rafaela Duarte, de Buenos Aires
Especial para o Atores & Bastidores*

Hoje fiquei pensando em como somos “obrigados” a ser felizes. Nesta época “Caras” em que vivemos, realmente é necessário estar sempre com um sorriso no rosto (de preferência maquiado), mostrar evidências de uma vida feliz e bem sucedida.

Claro, quem é que não quer ser feliz? Saudavelmente esta deve ser nossa decisão diária… Mas, falo da pressão que é não poder estar triste, num momento meio deprê, nem mesmo na hora da morte… Veja na mídia como as pessoas se comportam segundos pós-despedida de um ente “dito” querido…

Causa-me estranheza. Diz a letra da música: “Pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba não”.  Todos nós vivemos momentos de intensa felicidade e de intensa tristeza. É normal. E diria que é até necessário tais momentos não tão bons, pois funcionam como mola propulsora da busca pelo que nos faz bem.

Sentimo-nos incitados a provar o tempo todo que somos vencedores: somos felizes, possuímos muitas coisas boas, muitos amigos, contatos influentes, somos lindos e saudáveis… Às vezes, revendo um filme dos anos 80, tenho a impressão de que se passaram mais do que algumas décadas. Tudo mudou.

Lembram-se da palavra “fossa”? Achar que aquele amor é TUDO na sua vida? Vejo as coisas agora bem distintas. No geral, todo mundo simplesmente vira a página. Porque sofrer é perda de tempo, e tempo é Dinheiro!

Não faço aqui apologia ao sofrimento, o que comparo é a repercussão histórico-social que o ensinamento básico da Nova Religiosidade vigente (auto-ajuda) faz refletir na maneira de sentirmos o que nos acontece dia-a-dia. Porque se você tem problemas, se está triste, se as coisas não caminham muito bem, ah, é porque você tem culpa no cartório! Não é uma pessoa abençoada. E isso, nenhum de nós quer ser.

Acredito realmente que a energia circula, que o Universo conspira a nosso favor, que o que desejamos é muito importante para definir nossa vida. Mas momentos difíceis fazem parte. Não precisamos estar sorrindo como palhaços todo o tempo, porque a vida não é só cor-de-rosa, um mesmo arco-íris tem azul, verde, vermelho, amarelo…

Desconfio muito de quem quer passar imagem da perfeição. Geralmente esconde coisas tenebrosas. Melhor é dar espaço pra todos os sentimentos que perpassam nossas vivências: ora alegria esfuziante, ora sensação de vazio, de saudade, ora nos sentimos as donas do mundo, ora parece que fomos esmigalhadas pelo monstro lá de fora…

E, também, é muito importante não esquecer: cada um tem Sua Felicidade. Nossa sociedade globalizada quer massificar tudo, padronizar até nossas escolhas mais íntimas. Rebelemo-nos!

Não deixemos que nos roubem de nós mesmos, sejamos íntegros para conosco, fortes para não sucumbir ao apelo. Quando uma ideia toma proporções de “o acordo social do momento” é muito difícil não entrar na onda. Mas vale a pena tentar, pelo menos pensar sobre isso.

Porque somos homens e mulheres sensíveis, que se alegram pelos bons feitos, pelos sorrisos de quem amamos, pelo carinho que recebemos, mas que também nos condoemos com as atrocidades que sofrem milhões de inocentes, nos toca ver um amigo numa situação-limite, quase desistimos da humanidade quando vemos tantas notícias de mães matando seus bebês. Não é fácil.

Porém, o fim do ano se aproxima. O mundo não vai acabar. Brindemos por isso e sejamos felizes com as escolhas diárias que fazemos. E peçamos um Ano-Novo melhor, porque algunas cositas não foram lá como desejamos e como não somos bobos nem nada, queremos mais, sempre mais. Mais amor, mais paixão, saúde, dinheiro, mais encontros que despedidas, mais ganhos que perdas. Mas… só ganha quem perde.

*A cronista Luciana Rafaela Duarte é pedagoga, professora de português, estudante de comunicação na Universidade de Buenos Aires e sabe chorar e sorrir.

 

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