Coluna do Miguel Arcanjo n° 185: Os Trinta

Miguel Arcanjo Prado, aos 30: “Presságios à parte, a gente precisa cada qual vivenciar sua própria experiência”

Por Miguel Arcanjo Prado*

Tem gente que acha que é tipo um soar de trombetas. Outros que será tão impactante quanto a abertura do Mar Vermelho por Moisés. Mas costuma ser muito mais tranquila e certeira a chega dos 30.

Três anos atrás, Luciana Rafaela Duarte, minha prima inteligentíssima que vive em Buenos Aires – existe algo mais charmoso? –, bem que me alertou, durante um aprazível café da tarde em Palermo: tudo vai mudar quando eles chegarem. Eu ainda tinha 27. Ela já os desfrutava e dizia que não os trocaria por nada nesse mundo. E foi tiro na queda. A partir daquelas férias portenhas praticamente tudo mudou. E para melhor.

Outro dia, entrevistei o ator Rodrigo Audi, que deu igual testemunho. Disse que botou os pés pela primeira vez no chão quando eles chegaram. Foi uma espécie de renascimento mesmo. Aterrou, foi o que concluiu com uma certeza espantosa na mesa do café da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo.

Presságios à parte, a gente precisa cada qual vivenciar sua própria experiência. E assim o foi comigo. Como tinha de ser.

Há cerca de dez anos, quando me saracoteava cantando rock na arena da Fafich, a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, onde estudei jornalismo, tinha pavor dos 30. Parecia-me uma longínqua idade anciã. Afinal, quando se é jovem demais não somos capazes de enxergar nada mais do que a nossa linda juventude. E acho que precisa ser assim mesmo.

E é aí que a chegada dos 30 traz o seu charme. Ela vem com uma percepção melhor do entorno. Do que somos. Do que queremos. Do onde vamos chegar. Ou melhor, traduzindo em miúdos: aprendemos a diferenciar o que realmente importante nessa vida. Damo-nos conta de que não dá para ser amigo de todo mundo; é melhor um número que caiba numa mão, aqueles certeiros. E ainda: que um filme no DVD debaixo de cobertas num dia chuvoso – muito bem acompanhado, é claro – é infinitamente melhor do que o mais divulgado show ou espetáculo da cidade.

Para mim foi tiro e queda: a chegada dos 30 me trouxe uma maturidade antes nunca pensada. É claro que os dramas mexicanos continuam a existir – em doses mais moderadas, porque nós somos latinos, ora bolas –, mas a ironia com que se vê a vida aumenta. Nada deve (nem pode) ser levado tão a sério.

É quase como se houvesse um maior desenvolvimento cerebral. Outro dia, estava lendo uma dessas revistas de artigos científicos que dizia que aos 30 é que todas as conexões do cérebro funcionam de maneira coerente. Agora, acredito.

Hoje, é meu último dia com 30. Amanhã, mais precisamente às 12h20 do dia 3 de dezembro de 2012, completo 31. Antes, odiava ficar mais velho. Achava um verdadeiro acinte ir perdendo os 20 e poucos anos. Hoje, já não dou bola para tal bobagem.

Aprendi na pele a beleza dos 30. A sabedoria que eles trazem diante de situações corriqueiras que antes pareciam desesperadoras. Mas, é claro que não virei um monge budista – se bem que vi outro dia na TV uma reportagem sobre um executivo que largou tudo e se mudou para ser monge na Índia e fiquei tentadíssimo… É claro que ainda tenho os meus medos, anseios, raivas, angústias e felicidades típicos de qualquer ser humano. Só que, como já tenho 30, tudo acontece de forma mais moderada e bem mais vivida.

É por isso que me despeço dos 30 um tanto quanto nostálgico. Pela importância que tiveram. Mas como eles mesmo me ensinaram, preciso parar de choramingar e dizer o quanto antes: que venham os 31. Porque, se uma coisa aprendi nesta vida, é que o presente é o que definitivamente importa. E como!

*Miguel Arcanjo Prado é jornalista e gosta de viver.

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1 Resultado

  1. Muito legal a crônica. Em março sou eu e a chegada dos trinta já não causa mais medo. Parabéns antecipado! Abraços

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