Texto de A Casa de Bernarda Alba, de Federico García Lorca, se mantém atual 70 anos depois

Mulheres em ebulição: texto é o mérito de A Casa de Bernarda Alba – Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado

O escritor espanhol Federico Garcia Lorca (1898-1936) retratou como ninguém, em seu espetáculo A Casa de Bernarda Alba, a opressão da mulher em uma sociedade machista e patriarcal, como é comum nos países latinos. E isso bem antes da revolução feminista acontecer.

Apesar de ter escrito a peça em 1936, meses antes de ser condenado à morte sumária com tiro na nuca, em plena Guerra Civil Espanhola, seu texto permanece atual.

O Brasil ainda mantém rincões onde a revolução do comportamento feminino é desconhecida. Nestes lugares, para a mulher, o casamento é a única alternativa possível.

É justamente a falta dessa possibilidade – conseguir um marido – que faz fervilhar as filhas criadas com mão de ferro pela viúva tirana Bernarda Alba.

Cinco irmãs solteironas se colocam em polvorosa quando uma delas consegue arrumar um pretendente, no caso a primogênita, que herdou a maior fatia da herança do pai.

Filhas no cabresto: peça tem mãe tirana

A montagem dirigida por Marcelo Medeiros e Néia Barbosa tenta explorar esse conflito da feroz disputa feminina – quem já trabalhou em um lugar repleto de mulheres sabe muito bem como a maioria delas se comporta na sede pelo poder.

No caso da peça, o poder é conseguir um marido que as tire da opressão materna e que represente um novo horizonte.

A direção acerta ao dar a personagem de Bernarda Alba para um homem. O ator Theo Moraes acaba por se destacar, ao construir uma matriarca amarga e violenta no limite da caricatura, ultrapassada por ele em alguns momentos. Mas nada que tire seu brilho.

Já Samara Pereira desperdiça a grande personagem que tem em mãos, Pôncia, a empregada da casa que tudo vê e tudo sabe. Quando teria tudo para roubar a cena, a atriz fica presa ao texto e, sem intenção, deixa sua personagem inverossímil. 

A decisão em manter as falas na segunda pessoa não foi um bom achado. Uma adaptação para um linguajar mais coloquial teria ajudado o elenco, irregular, a dizê-lo com mais verdade.

O canto no começo do espetáculo também soa incômodo. É preciso cuidado com a afinação em uma cidade acostumada a ver números musicais impecáveis. O violonista Kauan de Medeiros precisa acompanhar as notas que surgem de supetão na boca das atrizes desnudas no palco.

O figurino de Marcio Rodrigues acerta na sisudez, contribuindo para criar o ambiente de opressão. O cenário e a luz de Zauara Corpo de Arte apenas cumprem sua função.

Entre as filhas, as atrizes Dani Salmória constrói uma Adela, a caçula, fresca e debochada em relação às irmãs mais velhas, ciente do poder de sua juventude, que lhe dá a ela alguma possibilidade de sair daquele inferno fraternal.

Carol Hubner também consegue dar a densidade do sofrimento contido de Martírio, sua personagem. Se ainda está engatando no começo da peça, lava a alma na cena final.

Completam as irmãs Vanessa Friggo (Angústias), Carol Ghirardelli (Amélia) e Renata Fasanella (Madalena), que apenas cumprem as funções de suas personagens.

O elenco ainda tem Monica Negro, que faz uma criada sem brilho; e Néia Barbosa, como Maria Josefa, que ultrapassa os limites do exagero como a avó louca.

Mas o elenco se esforça, apesar dos percalços. O desejo de fazer é perceptível. Mas o que sustenta de fato a montagem é a a boa história criada por Lorca, capaz ainda de provocar identificação e de surpreender o público mais de sete décadas depois de ser lançada.

A Casa de Bernarda Alba
Avaliação: Regular

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2 Resultados

  1. sandra disse:

    quer ler o texto

  2. Paulo Sergio dos Santos disse:

    Simplesmente show. Eu fui Bernarda Alba em novembro de 2012 pela CIA.Apolo.

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