Jô Soares mistura suspense e riso em Atreva-se
Por Miguel Arcanjo Prado
Uma história de suspense nas mãos de Jô Soares como diretor teria de terminar em riso. É o que ele propõe e acontece em Atreva-se, texto de Mauricio Guilherme que ganha montagem do Gordo em São Paulo.
Maneco Quinderé assina uma luz que deixa tudo sob um clima noir, aquele dos antigos e dramáticos filmes em preto e branco que entraram para a história do cinema.
O ar de época também é reafirmado no cenário de Chris Aizner – uma soturna mansão onde personagens transitam em diferentes décadas – e nos elegantes figurinos de Fábio Namatame, que trazem glamour ao elenco no palco.
O espetáculo é dividido em quatro cenas distintas em diferentes épocas. Elas vão sendo apresentadas à plateia pela narradora, papel encabeçado pela lanterninha do suposto cinema exibido no palco.
A atriz Mariana Santos funciona bem neste lugar de mestre de cerimônias, dando respiro entre uma cena e outra. Cheia de sacadas e poder de improviso, a atriz até serve pipoca à plateia, sempre com a irreverência que faz de suas entradas no corredor um show à parte do que é apresentado no palco.
Conhecido do Zorra Total, Marcos Veras apresenta-se um ator com bom tempo cômico e transita com competência pelos personagens que interpreta. O grande mérito dele é mostrar-se capaz de confiar e respeitar as marcações definidas pelo texto e pelo diretor, em vez de querer fazer graça por conta própria. Porque há muito comediante que não tem essa capacidade – o ego explica.
Júlia Rabello, sempre fazendo par com Veras nas histórias que se sucedem, consegue construir mulheres misteriosas e engraçadas, tarefa nada fácil.
Carol Martin, sempre coadjuvante do casal, é quem menos rende, quando tinha nas mãos a personagem que poderia roubar a cena, a empregada. Ela demonstra insegurança, enquanto os outros se jogam de cabeça.
O que prejudica a peça é a falta de um nexo claro que ligue as quatro histórias apresentadas. O público, num primeiro momento, é levado a buscar alguma linearidade entre o que vai se passando na mansão, quando realmente isso não existe de fato. A sensação que se tem é que as quatro cenas foram costuradas meio que a toque de caixa.
Apesar disso, Atreva-se é um espetáculo divertido que garante gargalhadas sinceras na plateia – coisa rara diante das montagens de comédia atuais. O espetáculo reafirma o talento para direção de Jô Soares, capaz de dialogar com a nova geração de comediantes sem deixar a assinatura do humor que fez dele uma estrela dos palcos e da TV.
Atreva-se
Avaliação: Bom
Quando: Quinta a sábado, 21h30; domingo, 20h. 75 min. Até 25/11/2012
Onde: Teatro das Artes SP (av. Rebouças, 3.970, Shopping Eldorado, Pinheiros, São Paulo, tel. 0/xx/11 3034-0075)
Quanto: R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia-entrada)
Classificação: 14 anos
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