Rabbit é reunião de personagens chatos e fúteis

Espetáculo mostra encontro de jovens medíocres em casa noturna – Foto: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado

Falar de pessoas desagradáveis sem um olhar crítico não costuma ser atraente. Rabbit, peça de 2006 da inglesa Nina Raine e que ganha direção em São Paulo por Eric Lenate com a Cia. Delas, é um triste retrato de uma geração despreparada para sair do casulo confortável dos pais e enfrentar a dureza da vida.

O espetáculo se propõe a retratar filhos de uma classe média alta que chegaram à vida adulta na virada do século 21, mergulhados no mar do egocentrismo. Até aí tudo bem.

O problema é que o texto de Raine, verborrágico até não mais poder, parece corroborar a mediocridade vigente.

Tudo se passa no aniversário de 29 anos da protagonista, a mimada e insuportável Bella, em uma boate onde recebe amigos, enquanto o pai morre de câncer no hospital.

Por capricho, prefere a festinha à despedida paterna, com quem não se dá bem por incapacidade de parar de olhar para o próprio umbigo. Diante da situação desumana, fica tensa e vê o fantasma do pai, a quem ela atormenta – e ao público – com sua reclamação sem fim.

Se o texto, cheio de clichês, está longe de ser dos melhores – que a culpa não fique no tradutor, Ricardo Estevam, por favor –, o elenco peca na falta de verdade das interpretações.

Tudo bem que os diálogos são intermináveis e pouco atrativos, repletos de informação inútil e vaidade, mas isso não exime os atores de tentar, no mínimo, interpretá-los, em vez de se comportarem como metralhadoras falantes.

A melhor forma de tornar tais personagens mais palatáveis seria uma entrega talentosa dos intérpretes. O que não ocorre.

Duas atrizes se revezam na pele da protagonista: Julia Ianina e Paula Weinfeld. No dia em que o R7 viu a peça, Paula interpretava Bella. O papel do pai, antes feito por Nelson Baskerville – parece inacreditável, mas é o mesmo que dirigiu o ótimo espetáculo Luis Antonio – Gabriela –, agora é assumido por Jorge Emil.

Completam o elenco Lilian Damasceno, a amiga médica, Jeronimo Martins e Ricardo Estevam, que vivem os ex-namorados de Bella, e Fernanda Castello Branco, a amiga ainda mais fútil que Bella. Não há destaques.

Mas justiça seja feita: Eric Lenate fez uma ambientação deslumbrante para a casa noturna onde tudo se passa e que nomeia a peça, Rabbit. O cenário enche os olhos. Wagner Freire também propõe luz criativa – assim como Mira Haar é inventiva na direção de arte e figurinos. Tal conjunto deixa muitas boates da capital paulista a desejar: os donos deveriam ir à peça para copiar. Quem sabe assim encontrariam algum sentido nos longos 110 minutos do espetáculo.

Rabbit
Avaliação: Ruim
Quando: Sexta e sábado, 21h; Domingo, 19h. 110 min. Até 11/11/2012
Onde: Teatro Cacilda Becker (r. Tito, 295, Lapa, São Paulo, tel. 0/xx/11 3864-4513)
Quanto: R$ 10
Classificação: 14 anos

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