A Outra conquista público com entrega verdadeira

As histórias do sertão baiano estão no espetáculo Remendo Remendó: (a partir da esq.) Israel Barretto, Luiz Antônio Jr., Luiz Buranga, Eddy Veríssimo e Roquildes Junior - Foto: Sidney Rocharte

Por Miguel Arcanjo Prado

O próximo fim de semana é o último de ocupação do espaço da Funarte em São Paulo pela A Outra Cia. de Teatro, que vem de Salvador. Ela encerra o projeto Nova Cena Nordestina, que também levou à capital paulista os grupos Magiluth, de Recife, e Clowns de Shakespeare, de Natal.

Formado pelos atores Eddy Veríssimo, Luiz Buranga, Israel Barretto, Roquildes Junior e Luiz Antônio Jr, sendo este último também responsável pela direção, o grupo apresenta dois espetáculos na cidade, Mar me Quer, às sextas e sábados, às 21h, e Remendo Remendó, aos domingos, às 16h.

Adaptação do texto original do escritor moçambicano Mia Couto, Mar me Quer vai fundo em um tema tão comum à Bahia e já visitado várias vezes por Jorge Amado – a relação dos pescadores com o mar, que impõe neles respeito e mistério.

A dramaturgia e direção de Luiz Antônio Jr. acertam em estabelecer um jogo cênico no qual os cinco atores em cena dividem todos os personagens. Ora são os mesmos. Ora são nenhum. Eddy Veríssimo e Luiz Antônio Jr. se destacam imprimindo maior verdade ao texto dito.

A luz azul de Mar me Quer - Foto: Sydnei Rocharte

O fato de o elenco executar a trilha ao vivo, bem como o figurino assinado por Luiz Santana, com proposta inventiva e simples, também conquistam. Já a iluminação proposta por AC Costa e Marcos Dedé, e executada por Catarina Campos, é bem mais tímida do que a proposta no cenário. Investe demais na luz azul, quando poderia ousar para deixar o espetáculo mais vistoso.

O preparo vocal, feito por Diana Ramos, é evidente, mas em muitos momentos o dizer do texto pelos atores é feito de modo monocórdico, o que tira parte de seu peso e lirismo. Os atores estão intensos no que fazem, mas falta um olhar de fora que os orientasse a dar nuances diferentes a passagens que são distintas.

Outro ponto importante seria maior consciência do espaço – uma sala pequena e com plateia bem próxima –, assim perceberiam que colocar a voz em um tom mais baixo tornaria algumas cenas bem mais impactantes.

Em Remendo Remendó o grupo sai do litoral e invade o sertão baiano, em busca de tradições e da alegria que é cartão de visita do Estado brasileiro.

A premissa do texto original de Cell Dantas, Inácio Deus e Vinício de Oliveira Oliveira é ágil e simples: um concurso de contadores de história promovido pelo prefeito de uma pequenina cidade interiorana.

Assim, pequenos causos se sucedem em ritmo vertiginoso proposto pela direção de Luiz Antônio Jr. Dessa vez quem assina a direção musical é Roquildes Junior, o que faz muito bem, já que o elenco demonstra afinação.

Mas a mesma consciência vocal tão presente no canto não é proporcional à da fala. Mais uma vez, o elenco peca por dizer o texto em tom alto e sem matizes.

O clima é de teatro de rua, mas o fato de estarem em um espaço fechado pede uma adaptação. Se Luiz Buranga e Luiz Antônio Jr. acertam em cheio no belíssimo figurino e conjunto de objetos cênicos, poderiam ter usado a mesma proposta multicor na iluminação.

Os dois espetáculos dos meninos de A Outra Cia. de Teatro mostram que eles fazem teatro com vigor e fé inabalável. Se há alguns tropeços, estes acontecem na vontade de acertar. E é essa entrega verdadeira em todos eles que cativa o público.

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Mar me Quer e Remendo Remendó
Avaliação: Bom
Quando: Sexta e sábado, às 21h (Mar me Quer); Domingo, às 16h (Remendo, Remendó). Até 30/9/2012
Onde: Funarte (al. Nothmann, 1.058, Campos Elíseos, Metrô Marechal Deodoro, São Paulo, tel. 0/xx/11 3662-5177)
Quanto: R$ 20 (sexta e sábado) e R$ 10 (domingo)

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