Professorinha abusada no sertão é tema do Piollin

Paraibanos do Piollin contam saga da professora abusada por patrões - Foto: Lillian Regis/Divulgação

Por Miguel Arcanjo Prado
Enviado especial do R7 a Santos

Na cultura nordestina, a professorinha do sertão tem lugar de destaque. A moça letrada, e geralmente mais bonitas do que as trabalhadoras braçais, desperta curiosidade e paixão, sobretudo em homens brutos do interior.

O assunto já foi retratado com sucesso na TV em 1993, na novela Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, onde Leila Lopes se consagrou na pele da professorinha Lu e virou objeto de desejo de todo o País.

A profissional do magistério também tem lugar no Mirada, o segundo Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas de Santos, realizado pelo Sesc São Paulo até o próximo dia 15. É tema da peça Retábulo, apresentada pelo Grupo Piollin de Teatro, da Paraíba, com direção de Luiz Carlos Vasconcelos. No elenco estão Everaldo Pontes, Ingrid Trigueiro, Luana Lima, Nanego Lira, Servilio de Holanda, Soia Lira e Suzy Lopes.

Adaptação do conto Retábulo de Santa Joana Carolina, do livro Nove, Novena, do escritor pernambucano Osman Lins (1924-1978), o espetáculo conta a vida de uma professora primária da roça de seu nascimento à morte, dividida em “doze mistérios”, como se fosse os 12 passos da Via Crucis cristã.

Afinal, sofrimento não falta à trajetória da jovem, que se vê alvo de desejo dos senhores das fazendas por onde passa e acaba sendo estuprada por alguns deles.

Apesar de ser curta – tem 65 minutos – a montagem soa arrastada, por conta da opção em contar a história por meio de um coro de narradores. Há pouca ação e as vozes em canto dispersam o público do enredo.

O grupo até investe em trabalho corporal e coreografias para tentar quebrar o clima modorrento. O trabalho com máscaras em algumas cenas e o cenário com colunas de varas de bambu que se fecham sobre a semi-arena nos momentos em que a professorinha é sufocada pela volúpia dos patrões (numa ótima metáfora cenográfica) ajudam a despertar o público.

O enredo é bom e poderia render um excelente espetáculo, mas isso não se dá por conta da escolha da forma em contá-la. Por isso, fica difícil ao público comprar a personagem e se emocionar com ela.

Apesar de sofrida, a professorinha do Piollin fica bem distante da força do mito que esta figura representa no imaginário popular do Brasil.

Retábulo
Avaliação: Regular


*O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Sesc São Paulo.

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