Ivam Cabral e SP Escola de Teatro: um sonho real

Ivam Cabral é diretor executivo da SP Escola de Teatro – Foto: Bob Sousa

Por Miguel Arcanjo Prado
Fotos Bob Sousa

Ivam Cabral chegou em um lugar que muita gente do teatro sonha. Com 23 anos de carreira apresentando peças em teatros alternativos do Brasil e do mundo com seu grupo Os Satyros, que fundou ao lado do companheiro Rodolfo García Vázquez, hoje ocupa uma imponente sala no prédio da SP Escola de Teatro, no número 210 da praça Roosevelt, em São Paulo, onde é o diretor executivo.

Para chegarmos até ele foi preciso marcar horário com sua secretária. Assim que entramos no local, a recepcionista pede a mim e ao fotógrafo Bob Sousa nossos documentos, que são prontamente anotados antes de nossa subida ser anunciada. Lá em cima, na antessala do diretor, sua secretária nos pede para aguardar. Ele já termina uma reunião.

Mas logo, Ivam Cabral surge risonho e nos convida para entrar em sua sala, que tem vista para as copas das árvores da praça que virou sinônimo de seu nome, do grupo que lidera e – em breve – da escola que dirige.

De cara, pergunto como se sente, à frente de uma escola teatral que, apesar de jovem, já conquista o respeito de muita gente. Ele pensa e responde.

— Se eu soubesse que eu chegaria lá acho que não iria conseguir. A SP Escola de Teatro é mesmo um projeto ambicioso, desde o começo buscamos a excelência, seja em nossos formadores, seja em nossos aprendizes.

Vagas disputadas

Desde sua criação, em novembro de 2009, a instituição cresceu. E como. Hoje, conta com duas sedes. Além do prédio na praça Roosevelt, também ocupa um charmoso edifício histórico no bairro do Brás, também na região central paulistana. E Ivam já está de olho em outro edifício vago na praça teatral.


— O projeto ficou maior do que a gente imaginava.

Logo, a SP, como quem a frequenta a chama, começou a atrair gente interessada em seus oito cursos regulares e gratuitos: atuação, cenografia e figurino, direção, dramaturgia, humor, iluminação, sonoplastia e técnicas de palco. Fora os muitos cursos de extensão ao longo do ano.

Só no último processo seletivo, mais de 1.000 candidatos tentaram as cerca de 20 vagas do curso de atuação – o que dá uma média de 50 candidatos por vaga, índice semelhante ao de cursos como medicina e comunicação social nas universidades públicas brasileiras.

Ivam espera bater recorde de inscritos no novo processo seletivo, cujas inscrições terminam nesta quinta (23) [leia o edital e saiba como se inscrever].

Tanta concorrência, faz Cabral chamar seus aprendizes (o conceito pedagógico da escola nao usa a palavra aluno) de “pequenos gênios”.

Reuniões toda sexta pela manhã

A escola teve gênese nos projetos sociais dos Satyros. Os trabalhos do grupo no bairro Jardim Pantanal, na zona leste paulistana, foram cruciais. Por meio de pesquisa com espectadores, descobriu-se que boa parte do público vinha daquele bairro, onde havia fãs fervorosos da trupe. Com direito a cartazes de peças da companhia na parede de salões de beleza.

Foi lá que Ivam Cabral percebeu que havia uma grande demanda de gente com vontade de trabalhar com teatro, não só na atuação, mas, sobretudo, na parte técnica também.

— Na SP os técnicos têm o mesmo tratamento dos aprendizes de atuação. Isso foi pensado desde o começo.

Das primeiras oficinas no Jardim Pantanal surgiram reuniões a partir de 2005 da turma de Ivam Cabral. Eram todas as sextas, pela manhã.

— Éramos um monte de bicho grilo falando que teríamos uma escola de teatro, que teria bolsa para os alunos. A gente pensava algo do tipo: qual escola que a gente gostaria de ter estudado?

Logo, nomes expoentes do teatro brasileiro também se juntaram ao grupo, como JC Serroni, Marici Salomão, Guilherme Bonfanti, Erika Riedel, Raul Barreto, Raul Teixeira e Francisco Medeiros.

Direita ou esquerda?

Mas o sonho precisava de uma coisa para virar realidade: dinheiro. A concretização veio de modo inusitado. Um político importante passou a frequentar peças dos Satyros. Logo, foi chamado a tomar cerveja nas mesas do bar do grupo. Ivam Cabral faz questão de contar o nome dele.

— A idealização da SP é do José Serra. A escola é também um sonho dele.


Diante do impacto dessa frase é inevitável a pergunta: mas o que tem a ver um político tucano com uma turma que faz um teatro ligado ao submundo e, num primeiro olhar, naturalmente bem mais próximo da turma da esquerda do que de políticos da dita direita? Preparado para o questionamento, Ivam responde com toda calma do mundo.

—Olha, nós aqui sempre tivemos carta branca. Nunca teve interferência do poder político na escola. Sempre tivemos liberdade. Se este projeto fracassar um dia, a culpa é nossa. Creio que construímos um espaço apartidário, um lugar sem legenda. A SP não tem cunho eleitoreiro. Não fomos nem somos usados por ninguém.

Mas e como a turma do teatro político reage diante dessa proximidade com Serra? Ivam permanece tranquilo ao argumentar.

— Eu continuo muito próximo do Serra e tenho orgulho disso. Mas acho que temos que ficar distantes das questões partidárias. Na SP também cabe o pessoal da Companhia do Latão e da Cooperativa Paulista de Teatro [grupos ligados à esquerda]. É um lugar de arte.

Da SP para o mundo

Política à parte, a SP está cada vez mais internacional. Atualmente, o francês François Kahn, discípulo de Grotovksi [importante diretor polonês] dá aulas para a turma de atuação. A escola também fechou recentemente parceria com a Academia de Artes Dramáticas de Estocolmo, na Suécia.


Alberto Guzik teria ficado feliz com tais notícias. O jornalista e crítico teatral de respeito resolveu virar ator dos Satyros no fim da vida e fez parte do grupo embrionário da SP, mas morreu pouco depois da fundação da instituição, vítima do câncer, aos 66 anos.

Hoje, nomeia a revista da escola, a A[L]BERTO, cujo número 2 foi lançado há poucas semanas.

— O Guzik é nosso grande mestre. Nosso divisor de águas e pilar forte. Ele esteve desde o primeiro momento. Guzik, eu, Cléo [de Páris] e o Rodolfo [García Vázquez]. Vivemos histórias muito bonitas.

Normas e um pouco de burocracia

Em meio a lembranças, a SP Escola de Teatro vive ainda um dilema burocrático. Como é uma escola livre, seus cursos não são reconhecidos pelo Ministério da Educação nem pelo Ministério do Trabalho para a emissão do registro profissional.

Ivam explica que isso ocorre porque, oficialmente, a profissão de dramaturgo não existe. Mas já está mexendo os pauzinhos para mudar essa situação.

De forma provisória, adianta que acaba de celebrar um acordo com o Sated (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão de São Paulo) para que os aprendizes da SP conquistem registro profissional quando se formarem.

— O mercado está reconhecendo quem se forma aqui. Temos ex-aprendizes dando as caras no mercado, trabalhando em teatros como o Alfa e o Bradesco.

Mas logo me vêm à mente a figura da recepcionista pedindo documento para que pudéssemos entrar na SP. E pergunto a Ivam por que tanta norma em uma instituição de artes. Ele responde de pronto.


— A SP é muito mais sistematizada do que você possa imaginar. Temos até um manual de estilo.

Tanta sistematização, resultou em um modelo pedagógico próprio, que já foi importado por mestres suecos e hoje é objeto de estudo de Ivam em seu doutorado na USP [Universidade de São Paulo].

—Temos uma pedagogia singular, que é viva, continua a ser discutida todos os dias.

Sucesso de hoje e lembrança no futuro

Ivam Cabral tem plena ciência de suas responsabilidades e busca no passado a força para não perder o foco diante do sucesso.

— Venho de origem pobre, de uma família com seis filhos. Mas sempre meus pais nos fizeram estudar. Meus irmãos chegaram muito à frente de onde estou. Tenho os pés no chão. Agora que estou aqui, não posso fazer de conta. Sou o primeiro a chegar e o último a ir embora.

Resolvo provocar e pergunto: o que vão dizer de Ivam Cabral no futuro? Depois de pensar um pouco, ele começa a responder.

— Penso no Guzik… O blog dele é um diário de uma geração… Mas a história é esquisita. Fico pensando no Boi Voador [grupo teatral da década de 1980 dirigido por Ulysses Cruz, hoje diretor da Globo]. Era um grande grupo e hoje quase não aparece na história do teatro. Pode ser que no futuro, a história nem conte que um dia o Satyros ocupou a praça Roosevelt, que existiu a SP… Mas gostaria de ser lembrado como um cara ético, sério e honesto. Queria ser lembrado como um cara que fez coisas bacanas para seus contemporâneos artistas.

Ivam Cabral (de branco) posa com aprendizes de atuação, o mestre Francisco Medeiros (à esq.) e o francês François Khan (ao centro) na sede da SP Escola de Teatro na pça. Roosevelt, centro paulistano – Foto: Bob Sousa

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3 Resultados

  1. Como fasso Para me escrever No ,Processo seletivo da record ?

  2. wellington silvio santos disse:

    ola boa noite! bem eu sempre tive muita vontade de trabalhar em novelas,como figuração é um grande começo também,e como é um grande sonho de varias pessoas de muitos lugares,a procura de uma chance,estou aqui pra ter esta chance! trabalho como modelo já há 5 anos,desfilei com varios artistas globais e outros de realytis,em geral,faço muitos trabalhos comerciais onde moro aqui em goiânia goiás,mais vejo que aqui não é meu lugar,e vocês sabem disso que muitas pessoas saem de onde moram para poder ter seus sonhos realizados,pois onde tem a maior oportunidade de mostrar novos talentos ou trabalhar pelo menos como figurante em televisão é só em são paulo ou rio de janeiro.E por isso peço por favor me deêm esta chance de pelo menos tentar algo,já fiz teatro também,não foi muito tempo mais tenho um pouco de conhecimento e tenho atitudes para poder desenvolver meu personagem,pois há vida é feita de oportunidades,não quero ser um bobão escrevendo então para não ter duvidas meu face é este: wellingtonsilvio@hotmail.com obrgd rederecord…..aguardo viu!!

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