Coluna do Miguel Arcanjo nº 184: Um grande jornalista chamado Roberto Hirao

Por Miguel Arcanjo Prado*

Quando cheguei para trabalhar como repórter da redação o jornal Agora São Paulo, em 2008, lembro-me que uma figura me chamou a atenção logo de cara: um editor da Primeira Página, já bem idoso, com traços japoneses.

Apesar da dificuldade de locomoção – ele sofria de Parkinson – , fazia questão de ir trabalhar todos os dias. Não reclamava. Vivia o jornalismo diário, pelo qual era apaixonado. O nome dele era Roberto Hirao, que nos deixou neste fim de semana, aos 68 anos.

Quando o texto para uma matéria não me vinha fácil, resolvia ir ao bebedouro, que ficava perto da mesa dele. Parava para bater papo. Assim, acabei fazendo amizade e descobri que o Hirao tinha uma história incrível.

Só para resumir, começou com o grande Samuel Wainer na Última Hora, foi editor de Cotidiano na Folha de S.Paulo na década de 1970, antes de ir para a Folha da Tarde e, depois, o Agora São Paulo.

Em nossos bate-papos, muitos durante um cafezinho na cantina do 10º andar da sede da Folha, na alameda Barão de Limeira, no centro paulistano, ele contava grandes casos da imprensa.

Vendo meu interesse pela história do jornalismo – sou apaixonado pelo tema –, Hirao, sempre que podia, passava na minha mesa para me presentear com cópias de suas colunas dos tempos em que foi ombudsman da Folha da Tarde, no começo dos anos 1990.

Pedia que eu lesse e dissesse a ele depois o que havia achado. O que fazia também religiosamente. Lembro-me que a repórter Mariana Poli, que se sentava ao meu lado, também adorava os casos do Hirao. Sempre que ele voltava para sua mesa, ela me dizia, em tom de confidência: “Aí está um grande jornalista”.

Depois, descobri com minha então editora, Cleide Floresta, que ele estava fazendo um livro com as tais colunas. Dedicada, Cleide estava ajudando Hirao a organizar a publicação, a selecionar os textos. Descobri mais tarde que outro amigo querido, o editor Thiago Blumenthal, também estava trabalhando na obra (leia aqui a despedida que ele fez para Hirao).

Sem saber, tive a oportunidade de ler as primeiras provas cedidas pelo autor. No dia em que 70 Lições de Jornalismo chegou às livrarias, em agosto de 2009, fiz questão de estar junto dele. Havia acabado de deixar o Grupo Folha rumo ao R7, mas fui lá na Livraria Cultura da Avenida Paulista pedir a Hirao que autografasse meu exemplar.

Rodeado de amigos, ele estava feliz. Cumprimentou todo mundo. Autografou sem parar. Contou casos. No cantinho, observando tudo, eu me dava conta de que participava de um momento único na vida desse grande jornalista. Desses que já não fazem mais.

*Miguel Arcanjo Prado é um jornalista apaixonado por grandes jornalistas.

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2 Resultados

  1. Silvia Hirao disse:

    Obrigada pela homenagem ao meu pai, Miguel. O jornalismo sempre foi sua maior paixão e movia sua vida. Um abraço,
    Silvia

    • Miguel Arcanjo Prado disse:

      Silvia, saiba que seu pai foi um dos grandes mestres que tive nesta profissão. Já está fazendo uma baita falta, mas vai viver nas lições ímpares que passou a cada jornalista que com ele trabalhou ou leu seu precioso livro. Um forte abraço e meus sentimentos!

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