Sinfonia Sonho faz terror com vizinhança em caos

Adassa Martins, à esq., se destaca como a filha caolha - Divulgação

CURITIBA (PR) – Uma investigação teatral que passa, em primeira instância, por um trabalho feito a partir do corpo do ator e para ele. Assim é o espetáculo carioca Sinfonia Sonho, apresentado na mostra paralela Fringe, no Festival de Curitiba.

O grupo Teatro Inominável apresenta a montagem com dramaturgia e direção inventiva de Diogo Liberano, que originou o projeto em seu trabalho de formatura em direção teatral na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Com a presença do próprio diretor e autor em cima do palco, na pele do narrador, a obra conta a história de dois casais vizinhos. Um deles tem um casal de crianças, o outro, sofre a frustração de um filho perdido acrescida da ilusão de uma gravidez psicológica na qual embarca a mãe sem filho. O enredo faz referência também ao caso que ficou conhecido como Massacre do Realengo, quando um atirador psicopata matou 12 crianças de uma escola do bairro carioca.

No elenco, Adassa Martins se sobressai com uma interpretação segura e carismática da filha caolha, Célia, que perdeu um dos olhos em um “acidente” com o espeto do fondue provocado pelo irmão, Kevin, interpretado por Márcio Machado, também em entrega destemida ao personagem.

Ainda compõem o conjunto de atores Andrêas Gatto, Dan Martins, Flávia Naves, Gunnar Borges, Laura Nielsen, Nastássia Vello e Virgínia Maria.

Apesar do cenário simplório, formado por sete cadeiras, a montagem cria sua própria convenção teatral, com estética bem definida, à qual o público embarca.

A peça abusa de poesia para exibir, em pequenos recortes, o absurdo que o tempo todo passa pelo humano, mostrando toda crueza que pode ser escondida entre as quatro paredes das habitações de uma vizinhança supostamente feliz e normal. Coisa que (quase) ninguém é.

A violência sempre pode estar por ali, apenas dormente. A obra poderia ganhar ainda maior força se a dramaturgia/direção optasse por cortes precisos no sentido de ficar mais enxuta e impactante.

Mas, como avisa o próprio diretor e dramaturgo no programa do espetáculo, Sinfonia Sonho é “um terror” do qual ninguém precisa mesmo gostar. Porque nem tudo nesta vida precisa ser “legal”. Porque, às vezes, não é mesmo.

O jornalista Miguel Arcanjo Prado viajou a convite do Festival de Curitiba.

Sinfonia Sonho
Avaliação: muito bom
Quando: sábado (7), às 18h; e domingo (8), às 21h (últimas apresentações)
Onde: Teatro José Maria Santos (r. 13 de Maio, 655, Curitiba)
Quanto: R$ 23
Classificação: 16 anos

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1 Resultado

  1. 07/04/2012

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